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Atena ou Palas Atena Imprimir E-mail

 

Atena (no grego ático: Αθηνά, transl. Athēnā ou Aθηναία, Athēnaia; ver seção Nome), também conhecida como Palas Atena (Παλλάς Αθηνά) é, na mitologia grega, a deusa da guerra, da civilização, da sabedoria, da estratégia, das artes, da justiça e da habilidade. Uma das principais divindades do panteão grego e um dos doze deuses olímpicos, Atena recebeu culto em toda a Grécia Antiga e em toda a sua área de influência, desde as colônias gregas da Ásia Menor até as da Península Ibérica e norte da África. Sua presença é atestada até nas proximidades da Índia. Por isso seu culto assumiu muitas formas, além de sua figura ter sido sincretizada com várias outras divindades das regiões em torno do Mediterrâneo, ampliando a variedade das formas de culto.

A versão mais corrente de seu mito a dá como filha partenogênica de Zeus, nascendo de sua cabeça plenamente armada. Jamais se casou ou tomou amantes, mantendo uma virgindade perpétua. Era imbatível na guerra, nem mesmo Ares lhe fazia páreo. Foi padroeira de várias cidades mas se tornou mais conhecida como a protetora de Atenas e de toda a Ática. Também protegeu vários heróis e outras figuras míticas, aparecendo em uma grande quantidade de episódios da mitologia.

Foi uma das deusas mais representadas na arte grega e sua simbologia exerceu profunda influência sobre o pensamento grego, em especial nos conceitos relativos à justiça, à sabedoria e à função civilizadora da cultura e das artes, cujos reflexos são perceptíveis até nos dias de hoje em todo o ocidente. Sua imagem sofreu várias transformações ao longo dos séculos, incorporando novos atributos, interagindo com novos contextos e influenciando outras figuras simbólicas; foi usada por vários regimes políticos para legitimação de seus princípios, penetrou inclusive na cultura popular, sua intrigante identidade de gênero tem sido de especial apelo para os escritores ligados ao feminismo e à psicologia e, por fim, algumas correntes religiosas contemporâneas voltaram a lhe prestar verdadeiro culto.

 Nome

O nome Atena, cujo significado é desconhecido e possivelmente tem uma origem asiática, é a versão portuguesa do grego ático Αθηνά, Athēnā, um nome que também era encontrado em outras variantes: Aθηναία, Athēnaia; Aθηναίη, Athēnaiē (no grego épico); Aθήνη, Athēnē (no grego jônico); Aθάνα, Athana (no grego dórico). Também era conhecida como Palas Atena (Παλλάς Αθηνά). Tem sido objeto de longa disputa acadêmica se a cidade de Atenas, da qual era a padroeira, tomou seu nome da deusa ou se foi a cidade que lhe emprestou seu nome. Em vista da ocorrência comum de sufixos "ena" para a denominação de localidades, é possível que a última hipótese seja a verdadeira. O primeiro registro conhecido do nome da deusa foi encontrado em Knossos, em uma tabuleta em Linear B, a antiga escrita dos povos micênicos usada entre os séculos XV a.C. e XII a.C. Ali ele aparece como a-ta-na po-ti-ni-ja, que tem sido traduzido como "Senhora de Atenas" ou "Senhora Atena". Para os atenienses ela era mais do que uma das muitas deusas do panteão grego, era "a" deusa, he theos. O significado do nome Palas é obscuro, às vezes é traduzido como "donzela", outras como "aquela que brande armas", e pode ter também uma origem não-grega.

Uma tradição relatada pelo Pseudo-Apolodoro conta que o nome Palas pertencia originalmente a uma filha de Tritão, uma divindade marinha por sua vez filho de Posídon e Anfitrite. Ambas teriam sido criadas juntas por Tritão e, compartilhando de um caráter belicoso semelhante, passavam o tempo entretidas em atividades militares, o que certa vez acabou por conduzi-las a uma disputa. Estando Palas prestes a desferir um golpe sobre Atena, Zeus interveio distraindo-a com sua aegis, no que Atena, aproveitando o lapso, feriu-a de morte. Extremamente entristecida com o sucedido, Atena modelou uma estátua com as feições de Palas, a que chamou de Paládio, e a envolveu com a aegis que lhe havia precipitado a morte, instalando a obra ao lado do trono de Zeus, rendendo-lhe honras e tomando o nome da amiga como uma homenagem. Mais tarde Electra, perseguida por Zeus, buscou refúgio junto a esta estátua, mas Zeus arremessou-a sobre a terra, onde Ilus, vendo-a cair diante de si, tomou isso como sinal divino, fundando no local a cidade de Tróia e preservando a estátua em um santuário. Também foi dito que ela adotara o nome do gigante alado Palas, a quem ela matou por ele ter atentado contra a sua virgindade. Depois disso ela o teria esfolado, fazendo da pele a sua aegis, arrancado suas asas para atá-las aos seus próprios pés e assumido o seu nome, pelo que sua façanha seria imortalizada

Epítetos

Na vasta região em que Atena foi cultuada recebeu uma variedade de epítetos. Segue uma lista incompleta, excluindo-se também os simplesmente toponímicos: Aithyia, a que mergulha, associado à sua função de instrutora nas artes da navegação e construção de navios; Agelkeia, líder ou protetora do povo; Agoraia, protetora das assembleias; Alalkomenêïs, poderosa defensora; Alkis, a forte; Amboulia, possivelmente significando aquela que atrasa a morte; Anemôtis, a que domina os ventos; Areia, guerreira; Arkhegetis, fundadora; Axiopoinos, vingadora; Chalkioikos, a que tem uma casa de bronze; Chalinitis, a que domina os cavalos através das rédeas; Erganê, trabalhadora, associado à sua função de instrutora da humanidade em todos os trabalhos manuais e artísticos; Hippia, equestre, domadora de cavalos; Hygieia, deusa da saúde; Mêchaneus, habilidosa em invenções; Nikê, vitoriosa; Paiônia, curadora; Parthenos, virgem; Polias ou Poliouchos, protetora das cidades; Promakhos, campeã ou aquela que guerreia na vanguarda; Sôteira, salvadora; Tritô, nascida da cabeça; Xenia, protetora dos estrangeiros e patrona da hospitalidade.

 Mito

 Origens

A sua citação em uma tabuleta em Linear B atesta que Atena estava presente entre os gregos em uma data muito antiga, antes mesmo de a civilização grega tomar a forma pela qual se tornou célebre. Diversos pesquisadores têm tentado traçar as origens de seu culto, mas nada pôde ser provado conclusivamente; ele pode ter derivado da adoração da Deusa Serpente ou da Deusa do Escudo da civilização minoica, ou da Grande Mãe dos povos indo-europeus, ou ser uma importação diretamente oriental, a partir da identificação de alguns de seus principais atributos primitivos, a guerra e a proteção das cidades, com os de várias outras deusas cultuadas no Oriente Próximo desde a pré-história. Sua história entre os gregos até o fim da Idade das Trevas é de difícil reconstrução, mas é certo que quando surgem as primeiras descrições literárias sobre Atena, no século VIII a.C., seu culto já estava firmemente estabelecido não só em Atenas, mas em muitos outros pontos da Grécia, como Argos, Esparta, Lindos, Lárissa e Ílion geralmente lhe atribuindo uma função de protetora das cidades e especificamente das cidadelas, tendo um templo no centro das cidadelas muradas, sendo por extensão uma deusa guerreira.

O nascimento de Atena, pintura em trípode grega, c. 570-560 a.C. Museu do Louvre

Encontra-se na Teogonia de Hesíodo o mais antigo relato conhecido sobre o nascimento de Atena, apresentado em duas variantes. Na primeira Atena seria fruto da união de Métis e Zeus. Métis, uma personificação da prudência e do bom conselho e a mais sábia dos imortais, foi a primeira esposa de Zeus, o rei dos deuses. Entretanto, sendo avisado por Gaia, a terra, e Urano, o céu, de que o filho que haveria de nascer de Métis após Atena seria mais poderoso que o pai, e ele por conseguinte corria o risco de ser destronado, assim como ele destronara seu próprio pai Cronos, Zeus através de um estratagema enganou Métis e a engoliu. Não obstante, ela gerou Atena no ventre de Zeus, que a deu à luz a partir de sua cabeça às margens do rio Tritão, já completamente adulta e armada. Na segunda versão Hesíodo disse que Atena fora filha exclusivamente de Zeus, nascendo logo após seu casamento com Hera, o que teria sido causa de um confronto com a esposa. Ela, injuriada, também deu nascimento a um filho, Hefestos, sem unir-se ao esposo.

Narrativas mais tardias detalham as circunstâncias do seu nascimento, dizendo que antes de Atena nascer Zeus começou a sentir uma insuportável dor de cabeça, e pediu que Hefestos lhe abrisse o crânio com um machado. Outros relatos colocam Hermes, Prometeu ou Palamon como assistentes neste parto incomum. Também foi apresentada como filha do gigante Palas. Uma versão do mito cultivada na Líbia a colocou como filha de Posídon com a ninfa Tritonis, e em certa ocasião, zangada com o pai, teria pedido para Zeus adotá-la. Sua conexão com o rio Tritão fez com que cada cidade onde corresse um rio com este nome, e eram muitas, reivindicasse ser o seu local de nascimento. A rápida expansão do seu culto por uma vasta região explica as variantes sobre o seu nascimento e as múltiplas histórias míticas onde ela tomou parte, que certamente incorporam lendas locais.

 Outros episódios

Do período arcaico em diante, até a era romana, o mito de Atena foi significativamente ampliado e enriquecido com uma profusão de outras histórias. Na Ilíada de Homero são narrados alguns eventos com a participação de Atena. Foi mostrada como sentando à direita de seu pai Zeus e provendo-o de aconselhamento;conduziu a carruagem de Diomedes e o incitou a ferir Ares, foi a responsável pela morte de Ájax, e estimulou os gregos contra os troianos misturando-se ao exército e proferindo gritos de guerra. Teve uma atuação indireta através da captura do Paládio pelos gregos, que assegurou a queda de Tróia, pois uma profecia cercava a estátua, dizendo que enquanto ela permanecesse em posse dos troianos a cidade seria inexpugnável. Sua manifestação mais importante foi para Aquiles: favoreceu-o na disputa com Agamemnon aconselhando que ele moderasse sua fúria, e colaborou na morte de Heitor enganando-o e devolvendo a espada para Aquiles. Também na Odisséia ela fez expressivas aparições. Foi a protetora de Odisseu em toda a longa e perigosa viagem de volta para casa, e quando ele chegou finalmente a Ítaca sem reconhecê-la, entregando-se ao desalento, a deusa o fez perceber que seu périplo havia terminado. Ela acrescentou que estava perpetuamente ligada a Odisseu pelo fato de que ele era tido como o mais astuto dos mortais, enquanto que ela era a mais sábia e engenhosa dentre os deuses. Também favoreceu Telêmaco, filho de Odisseu, disfarçada como Mentor, o seu tutor, aconselhando-o a ir informar-se sobre o destino de seu pai, profetizando que ele em breve estaria de volta, e mais tarde instruindo-o como agir contra os pretendentes de sua mãe Penélope. Sob o mesmo disfarce apresentou-se diante dos pretendentes no momento da luta final, incitando Odisseu contra eles e, transformando-se em andorinha, desviando suas lanças.

Atena combatendo Encélado, pintura em prato grego, c. 525 a.C. Museu do Louvre.

Hesíodo referiu que Atena foi quem adornou Pandora com um manto de prata e um maravilhoso véu bordado, pondo-lhe uma guirlanda de flores na cabeça, bem como uma coroa de ouro fabricada por Hefestos. Foi uma aliada de Zeus em sua luta contra os Titãs, e mais tarde contra os Gigantes, encarregando-se de buscar a ajuda de Hércules, contribuindo na morte do gigante Alcioneu e matando outro, Encélado, lançando sobre ele a ilha da Sicília. Pseudo-Apolodoro narrou que quando Cécrops tornou-se rei da Ática os deuses olímpicos decidiram repartir o reino a fim de estabelecerem seus cultos nas várias cidades. Posídon chegou primeiro à capital recém-fundada e com seu tridente feriu o solo da Acrópole, de onde brotou uma fonte de água salgada. Atena apareceu depois dele, mas reivindicou a posse da cidade plantando ali a primeira oliveira. Ambos iniciaram uma disputa, e Zeus designou como árbitros os olímpicos. Atenas foi declarada vencedora porque a oliveira foi considerada mais útil para os humanos; assumiu a tutela da cidade e emprestou-lhe o seu nome. Mais tarde Atena foi encomendar armas a Hefestos, mas este, tomado de paixão pela deusa, tentou seduzi-la. Ela repeliu seu avanço, mas não obstante Hefestos ejaculou sobre a sua coxa. Atena limpou o sêmen e enojada arrojou o pano que usara sobre a terra. Gaia, a terra, em segredo gerou um filho da semente de Hefestos, Erictônio, planejando torná-lo imortal. Colocou-o dentro de um cesto, que confiou aos cuidados de uma filha de Cécrops, Pandroso, proibindo-a de olhar seu conteúdo. As irmãs de Pandroso, vencidas pela curiosidade, abriram o cesto mas se horrorizaram ante a visão de uma serpente envolvendo o bebê. O Pseudo-Apolorodo continuou a história dizendo que algumas versões do mito mostram em seguida as irmãs morrendo pela picada da serpente, ou tornadas loucas pela ira de Atena, que as arremessou do alto da Acrópole. Atena então tomou a criança e a criou numa gruta sagrada. Ao chegar à idade adulta, Erictônio expulsou Anfictião e tornou-se rei de Atenas, quando introduziu o festival das Panatenaias, o mais importante dentre os festivais religiosos dedicados a Atena. A deusa também participou de um concurso de beleza junto com Afrodite e Hera, tendo como juiz Páris. Hera ofereceu-lhe o domínio sobre todos os reis da Terra se fosse a escolhida; Atena, a vitória em todas as guerras, mas Afrodite, prometendo casá-lo com Helena de Tróia, a mais bela das mulheres, acabou vencendo.

Vários personagens míticos foram punidos por Atena em consequência de profanações, húbris ou ultrajes à sua divindade. Ájax, filho de Oileu, príncipe da Lócrida, que havia estuprado Cassandra dentro do santuário de Atena, foi punido com o naufrágio do seu barco, que Atenas atingiu com um raio. Seu povo também teve de pagar pela ofensa, sendo assolado por uma praga e sendo obrigado a expiá-la por mil anos enviando duas donzelas anualmente para serem sacrificadas pelos troianos. Para castigar Auge, sua sacerdotisa, que tivera relações sexuais dentro do seu santuário na Arcádia, tornou a região infértil até que o rei a expulsasse, vendendo-a como escrava. Pelo mesmo motivo mandou que Tideu matasse Ismene, princesa da Beócia. Ilus foi cego pela deusa por ter desvelado a estátua do Paládio, cuja contemplação era vedada aos mortais. Transformou Aracne em aranha por ela ter desafiado Atena em uma competição de bordado; transformou Mérope em uma coruja por ela ter ridicularizado os olhos cinzentos da deusa e zombado dos outros deuses; enlouqueceu Aias Telamanios porque ele ameaçara matar os líderes gregos durante a Guerra de Tróia; matou Laocoonte e seus filhos mandando duas serpentes marinhas estrangulá-los, para impedir que ele revelasse aos troianos o segredo do Cavalo de Tróia, e fez a peste desolar a Arcádia porque seu príncipe Teutis a ferira acidentalmente. Transformou Medusa em um monstro por ela ter gabado sua beleza como superior à de Atena, depois ajudou Perseu a matá-la e fixou sua cabeça em seu escudo ou sua aegis, com ela aterrorizando seus inimigos.

Atena assiste Hércules, pintura em kylix, c. 480-470 a.C. Staatliche Antikensammlungen.

Por outro lado, Atena mostrou sua face benevolente favorecendo outros personagens. Para evitar que Corônis, princesa da Fócida, fosse violentada por Posídon, transformou-a em corvo. Também para proteger Niktimene de destino semelhante transformou-a em coruja e a tomou como seu animal simbólico. Levou Polibóia para o Olimpo e lhe conferiu a imortalidade; ajudou Argos, artesão de Iolco, a construir o navio que levou seu nome e conduziu os Argonautas; deu o sangue da Medusa para Asclépio a fim de que ele aumentasse seus poderes curativos; ensinou a Dédalo a arte da construção; ajudou Dânao a construir seu barco para que fugisse da Argólida com suas filhas, e mais tarde as purificou pelo assassinato de seus maridos; inspirou Epeios para que construísse o Cavalo de Tróia; ensinou a Eurínome a arte da tecelagem e concedeu-lhe a sabedoria, conseguindo para ela também um bom esposo; também ensinou às filhas de Coroneu e às de Pândaro a arte da tecelagem; restituiu a vida a Perdix sob a forma de um faisão em recompensa pelas invenções que havia transmitido à humanidade; cegou Tirésias por ele tê-la visto nua a se banhar, mas compensou-o concedendo-lhe o dom da profecia; deu dentes de dragão a Eetes, rei da Cólquida, e a Cadmo, rei de Tebas, para que eles dessem origem a uma raça de guerreiros; favoreceu Perseu em seu combate contra Medusa, esteve sempre pronta a auxiliar Hércules em seus Doze Trabalhos, foi de grande ajuda para os gregos durante a Guerra de Tróia e em particular para Aquiles e Odisseu, como já foi mencionado. e ajudou Belerofonte a capturar Pégaso instruindo-o e dando-lhe uma rédea especial, de ouro, para que ele pudesse domá-lo.

 Seus atributos

Como deusa da guerra, Atena é a perfeita antítese de Ares, o outro deus encarregado desta atividade. Atena é dotada de profunda sabedoria e conhece todas as artes da estratégia, enquanto que Ares carece de todo bom juízo, prima pela ação impulsiva, descontrolada e violenta, e às vezes, no calor do combate, mal sabe distinguir entre aliados e inimigos. Por isso Ares é desprezado por todos os deuses, enquanto que Atena é universalmente respeitada e admirada. A falta de sabedoria de Ares explica sua invariável derrota sempre que confrontou Atena. O princípio simbolizado por Ares é por vezes mais necessário quando se trata de desbravar um território hostil e fundar ou conquistar uma cidade, ou quando a violência é absolutamente incontornável diante de uma situação desesperada, mas é incapaz de criar cultura e civilização e manter a sociedade numa forma estável, integrada e organizada. Este papel cabe a Atena, a deusa da sabedoria, da diplomacia, da coesão social - lembre-se que ela é a protetora por excelência das cidadelas, o núcleo vital das cidades -, instrutora nas artes e ofícios manuais produtivos, especialmente o trabalho em metal e a tecelagem, que enriquecem o espírito e possibilitam a continuidade da vida em comunidade. Ela torna a guerra um instrumento social e político submetido ao intelecto, à disciplina e à ordem, antes do que um produto da pura barbárie e das paixões irracionais. As próprias derrotas repetidas de Ares diante de Atena, seu atributo como domadora de cavalos e, na disputa pela Ática, sua vitória contra Posídon, um deus conhecido por seu caráter turbulento, vingativo e irascível, confirmam a submissão da força bruta à soberania e ao equilíbrio da justiça e da razão. Entretanto, quando decide lutar nela não se encontra nenhuma hesitação ou fraqueza, e sua simples presença pode bastar para afugentar o inimigo.

Orestes entre Atena, uma Fúria possivelmente Tisífone e Apolo. Pintura em kratera, c. 330 a.C. Museu Britânico.
Oficina de Fídias: Atena e Hefestos, relevo do Partenon, c. 447–433 a.C. Museu Britânico.

Na qualidade de guerreira Atena é invencível e pode ser tão implacável quanto Ares, mas isso não a priva de traços mais doces, o que Ares não possui. Vários episódios do seu mito a mostram em relações afetuosas com seu pai e com os seus protegidos, e sua fidelidade e devoção podem ser profundas. Ela tem ainda um inigualável senso de justiça e, como a virgem divina, de pureza, como provou várias vezes: puniu personagens tomados pela húbris ou que profanaram seus templos, protegeu donzelas prestes a serem violadas e foi dura contra o comportamento indigno dos pretendentes de Penélope, além de ter corrigido várias injustiças, como quando devolveu a vida a Perdix que fora morto por seu tio sob o único motivo da inveja, ou quando num julgamento público em Atenas seu voto encerrou a maldição que caíra sobre Orestes, perseguido pelas Fúrias por conta do matricídio que cometera sob uma ordem direta de Apolo. Por esta razão Atena é considerada a divindade tutelar dos julgamentos e dos júris, e a fundadora mítica das cortes de justiça ocidentais, substituindo a tradicional punição por vingança pela penalidade baseada em princípios consagrados num sistema legal formalizado.

É possível que em tempos remotos Atena tenha sido uma deusa da fertilidade e tido o caráter maternal de todas as Grandes Mães da pré-história, sendo identificada com a rocha da Acrópole de Atenas que, como em regiões da Anatólia (uma das possíveis rotas de entrada dos povos indo-europeus na colonização primitiva da Grécia), se identificavam com as montanhas de suas cidades onde se erguiam as cidadelas. Ela pode ter tido ainda uma virgindade renovável anualmente, como se dizia que Hera possuía, um traço ligado aos ciclos naturais de renovação sazonal, mas de qualquer modo em tempos clássicos sua virgindade perene se tornou canônica. Ainda que no mito clássico a relação entre Atena e Hefestos no nascimento de Erictônio tenha sido conflitiva, eles aparecem frequentemente juntos na arte grega, ambos são considerados co-instrutores da humanidade nas artes, e em vários lugares dividiam um culto deste tempos remotos, o que levou Cook a sugerir que em uma fase primitiva, não documentada, Hefestos pode ter sido um verdadeiro esposo de Atena. Em algumas interpretações do mito pelos apologistas da época a deusa foi-lhe de fato dada em casamento, como prêmio por ele ter livrado Hera de um trono que a prendia (feito pelo próprio Hefestos), ou por ter criado o raio para Zeus usar como arma, ou por ter ajudado no parto da deusa, embora em nenhuma das versões a união realmente se consumasse.Platão fez uma descrição do elo entre Atena e Hefestos, o deus das forjas e das artes metalúrgicas, dizendo que eles possuem a mesma natureza, primeiro porque, como irmã e irmão, possuem o mesmo pai, e segundo, porque seu mesmo amor pelo conhecimento e artes os leva para os mesmos fins. Os dois deuses compartilhavam da região de Atenas e, ainda segundo Platão, ela com razão deveria pertencer a eles, sendo naturalmente adequada para a virtude e o pensamento. Tendo instalado ali como habitante um povo respeitável, eles organizaram a cidade de acordo com os seus desejos. Atena e Hefestos dividiam culto num templo na acrópole e outro na cidade baixa, num bairro habitado por artífices. Daí que Atena se tornou a padroeira dos carpinteiros, dos tecelãos, dos construtores de navios e carruagens, dos ceramistas, e atribuía-se a ela a invenção das rédeas para domar cavalos, do carro de guerra, do arado e da flauta. Todas essas atividades envolviam habilidade manual e inteligência prática, algumas traziam em si um toque de magia, exigiam um definido senso estético que era então incluso no domínio da sabedoria, e definiam parte de seu caráter como doméstico, familiar e civilizador. Na Ilíada ela aparece dizendo que é a sabedoria e não a força bruta o que produz um bom artesão na madeira. Considerava-se a habilidade de construir um navio ou carruagem como sendo em essência a mesma que fazia um bom piloto ou cavaleiro, envolvendo os dons da atenção concentrada, disciplina, destreza física/manual e capacidade de estabelecer metas e segui-las até o fim. Da mesma forma o conceito se aplicava aos tecelãos, lavradores e ceramistas.

Tendo como um de seus símbolos a oliveira, que oferecera como seu presente à cidade de Atenas em sua fundação, Atena era uma imagem da perenidade e vitalidade da pólis, e protetora de um dos seus produtos agrícolas mais importantes, o óleo de oliva, e tornou-se uma poderosa imagem de esperança e renovação para os gregos especialmente depois da guerra com os persas, quando a antiga oliveira sagrada da acrópole, incendiada no saque da cidade pelos inimigos, voltou a brotar. A ela era consagrado um olival na área da Academia, que produzia o óleo oferecido como prêmio aos vencedores dos jogos atléticos de seus festivais. A oliveira era ainda um dos indicativos da sua ligação com a fertilidade da terra e com a agricultura, aspectos que estavam por sua vez ligados ao lado feminino da natureza, o que conduz a outra das ambiguidades de Atena a respeito da dinâmica dos princípios da geração e da virgindade, do masculino e do feminino, em sua própria identidade, que era fortemente andrógina e paradoxalmente encontrava escasso paralelo na sociedade grega e em especial nas mulheres de seu tempo. Para aqueles gregos era fundamental que suas filhas permanecessem virgens até o casamento, mas era também fundamental que depois elas fossem capazes de constituir família gerando prole. Atena, a sempre virgem, repudiava desta forma valores básicos da sociedade grega. Guerreira, altiva e independente, também contrastava com o hábito da época que mantinha as mulheres em grande parte submissas ao homem, confinadas a atividades domésticas e delas exigia modéstia, mas por outro lado era a patrona da tecelagem, da fiação e do bordado, artes eminentemente femininas. Sua maior aproximação da maternidade foi a adoção e educação de Erictônio, e por isso foi chamada de kourotrophos, a que cria os homens jovens, mas também isso a conduziu a um maior contato com o princípio viril, como protetora de heróis. Mesmo a versão que a dava como filha de Métis, fazendo dela, assim, a receptora e transmissora de uma forma feminina de sabedoria, com o passar dos séculos foi amplamente sobrepujada pela versão que excluía uma mãe em seu nascimento, novamente ligando-a ao mundo masculino, e mais quando, no período clássico, o conceito de sabedoria, com a qual ela era identificada, deixou de significar uma habilidade que tinha muito um caráter prático, passando para o domínio do pensamento filosófico abstrato, também um apanágio dos homens.[ Outro aspecto relacionado é referido em uma ode de Píndaro, onde se encontra uma descrição de Atena como aquela que dissolve o poder demoníaco da Grande Mãe ctônica e torna o princípio feminino seguro e acessível às atividades e instituições masculinas da pólis, possibilitando assim a continuidade do modelo ateniense de civilização.

 
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